Uma delas era muito, muito feia e doente; a outra era bonita e com saúde regular; a última das irmãs era linda, desejada por todos.
A irmã mais velha, por ser muito feia, esmirrada e doente, não podia escolher os clientes. Tinha que sair com os piores seres, ganhando muito pouco, sendo muitas vezes humilhada. A coitada, tendo em vista sua baixa renda, era analfabeta, morava nos piores lugares da cidade, não tinha acesso nem à segurança, nem a atendimento médico, nem à educação... Enfim, não tinha acesso a nada.
A irmã do meio não era linda. Era bonita (bem mais bonita que sua irmã mais velha). Além disso, ela tinha alguma educação, alimentava-se e morava um pouco melhor e podia fazer uma razoável seleção dos seus clientes. A coitadinha pagava muito caro para ter uma moradia minimamente aceitável, uma educação de medíocre a boa e ter um pingo de segurança.
A caçula da família, por outro lado, era linda! Lindíssima! Desejada por todos e invejada pelas irmãs. Seus clientes tinham nível social altíssimo. Assim, ela ganhava muito mais que as suas duas irmãs juntas, tinha excelente educação e vivia muito bem.
Por mais que as três irmãs vendessem o corpo, nunca era suficiente, pois tudo que elas ganhavam tinha que ser repartido com os três gigolôs. Repartido não é o melhor termo, na realidade, os três irmãos tomavam uma boa parte do dinheiro que as prostitutas ganhavam com muito suor.
E como se não bastasse, qualquer coisa que as irmãs quisessem comprar para elas com o que sobrasse da "divisão" com os gigolôs era motivo de mais abuso por parte dos três insaciáveis... Eles tomavam mais dinheiro ainda.
- Eu preciso deste dinheiro para pagar meus estudos, dizia uma.
- Tens que nos dar um percentual deste valor, porque nós ajudamos tua irmã mais velha a estudar, diziam os gigolôs.
- Mas na escola de vocês nunca tem vagas...e quando há vagas não há professores... quando há professores eles não ensinam nada direito! - replicavam as irmãs.
- Isso é um detalhe. Nós vamos resolver isso logo e o estudo oferecido será de qualidade. - respondiam os irmãos, que nunca resolviam nada e as escolas continuavam uma porcaria.
- Nós precisamos deste dinheiro para morarmos melhor - Diziam as mulheres.
- Sobre esse valor vocês vão ter que pagar um percentual para nós. - apressavam-se os irmãos, ávidos por tomar mais dinheiro das prostitutas.
- Mas assim não teremos condições de morar tão bem! - retrucavam.
- Não importa. O que importa é que vamos usar este dinheiro para contratar seguranças para não deixar nada acontecer com vocês. - Eles respondiam.
Mas os seguranças não as protegiam. Ao contrário. Sempre batiam na mais velha, de vez em quando na do meio e nunca na irmã caçula (afinal ela era linda e ganhava bem). Às vezes os próprios seguranças tomavam dinheiro delas.
E assim era para tudo. Sempre que elas queriam comprar algo, não importava se fosse extremamente necessário ou não, lá vinham os três irmãos tomar mais dinheiro delas.
- De que nos adianta trabalhar se mesmo após vocês nos tomarem uma parte do dinheiro não podemos gastá-lo? - Perguntavam indiginadas as mulheres.
- Claro que podem gastá-lo. O dinheiro que sobrou depois de vocês nos darem a nossa parte é todinho de vocês. Usem-no como quiserem. - Diziam os gigolôs com ar cínico.
- Mas toda vez que vamos comprar algo vocês nos tiram mais dinheiro...não podemos nem tirá-lo do banco que vocês já vem buscar mais dinheiro...e não temos nada em troca... nem moradia, nem alimentação, nem saúde, nem segurança... lazer então, nem se fala.
- Vocês não entendem...não adianta explicarmos as coisas...elas são assim porque nós precisamos cuidar de tudo para vocês, mas o dinheiro nunca dá... não temos culpa. - Diziam os irmãos.
As irmãs se indignavam cada vez mais com essa exploração...elas viam que os gigolôs andavam bem vestidos, moravam e comiam muito bem, não trabalhavam, que seus filhos tinha excelentes colégios, eles passeavam, tinham seguranças, carros de luxo e muito mais... tudo às custas das três prostitutas...que tinham que vender o corpo, a alma e perder o resto de dignidade para ganhar dinheiro para estes vagabundos.
Muitas vezes elas pensaram em se rebelar, em gritar, brigar e não pagar mais nem um centavo aos gigolôs. Aqueles sangue-sugas que criassem vergonha na cara e fossem trabalhar. Mas o medo que elas tinham deles era muito grande.
Os gigolôs eram brutos, assassinos, não tinham a menor piedade com ninguém... dever para eles era muito pior do que dever para a máfia chinesa! De modo que as três sempre se acovardavam e a situação só piorava.
Além do medo, havia outra coisa que impedia que as irmãs se unissem: elas se odiavam.
A mais velha dizia: - Essas trapaceiras! Só por que essas duas são mais bonitas, elas têm melhores clientes do que eu! Elas deveriam me dar uma parte do que ganham, afinal de contas sou pobre. Quero que elas morram!
A irmã do meio dizia: - Não bastasse a minha irmã caçula ser linda e ficar com os clientes que pagam mais, ainda tenho que dar uma parte de meu dinheiro para ajudar o estorvo da minha irmã mais velha. Que absurdo! A caçula é que deveria me dar um pouco do dinheiro que ela ganha. Odeio essas duas!
A caçula dizia: - Mas que droga! Não tenho culpa se eu sou mais bonita, mais nova e desejável das três! Elas que se virem para viver! Por que eu tenho que tirar uma parte do meu dinheiro para ajudá-las? Especialmente àquela velha doente. Por que ela não morre logo?
Os três gigolôs, por mais ferozes e traiçoeiros que fossem, não eram burros. Eles sabiam que não podiam tratar do mesmo modo as três irmãs.
Primeiro porque quanto mais bonita, maior o faturamento. Logo, quem dava mais lucro precisava ser melhor tratada. Além disso, um tratamento diferenciado ajudaria a manter a rixa entre as irmãs. Enquanto elas brigassem entre si, não se rebelariam contra o sistema imposto.
A caçula (mais linda e rica) pagava proporcionalmente menos que suas irmãs. A mais velha, por ser a mais feia e pobre, pagava muito mais caro. E deste modo, as coisas só pioravam.
A última notícia que tive desta terra tão longínqua é que as coisas estavam cada vez pior. Ainda bem que não moramos lá. Dá para imaginar como seria morar num lugar assim?
Autor: Marcio Andrey Oliveira
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