Chegou como de costume, nem cedo, nem tarde. Cumprimentou a moça da recepção, a senhora da limpeza e foi direto para sua mesa.
Ligou o computador, deixou a mochila ao lado da cadeira e foi em direção à copa tomar um cafezinho.
Ah, nada como o café da dona maria para começar bem o dia. E sem café, todos sabem, o programador não rende.
De repente entra na copa aquela morena bonita, de olhos verdes.
- Nossa, que será essa morena - pensa Alvarão, entre um gole e outro.
- Bom dia - cumprimenta sorridente a morena.
- Bom dia, responde num sorriso aberto, cheio de dentes.
Enquanto bebe, Álvaro fita a morena, que após servir-se de café, sai da copa em direção ao setor administrativo da empresa.
- Que pandeiro! Que pandeiro! - ele pensa, feliz com a visão. - Mas de onde se tira o pão, não se come a carne. Com este último pensamento, Álvaro volta à sua mesa.
Não que fosse moralista. Muito pelo contrário. O negócio é que Álvaro não gostava de misturar as coisas. - Trabalho é trabalho. Farra é farra - ele sempre repetia para os amigos.
Algum tempo depois e os colegas de já haviam chegado. Todos só falavam da morena de olhos verdes e pandeiro gigante.
- Será que ela é do RH?
- Acho que é da recepção.
- Nada. Bonita daquele jeito? Deve ser do comercial ou do marketing.
- Programadora é que não é!
E assim seguiam as conjecturas sobre o que a desconhecida faria na empresa.
- Só quero ver quanto tempo ela vai agüentar aqui. Com o Alvarão por perto... coitada. Não vai ter paz.
- Que isso, Zé? De onde se tira o pão, não se come a carne. - Álvaro responde, achando graça.
- Sei. Com essa tua cara de pau, tu queres me convencer que ela está segura?
- Segura não! Seguríssima!
logo em seguida o gerente aparece com a morena misteriosa: - Pessoal, bom dia. Quero lhes apresentar nossa nova colega de trabalho, a Ângela.
- A Ângela - explicou - é a nova psicóloga da empresa. A seguir cada um se apresentou.
Beijinho p'ra cá, beijinho p'ra lá e o Álvaro já a convida para almoçar com eles. - Para facilitar a integração com a equipe - justifica-se.
Daí em diante, Ângela passa a almoçar sempre com o pessoal.
- Cê tá catando, Álvarão. Confessa. - Dizia um.
- Volta e meia e vocês estão de conversinha. - dizia outro.
Dê onde se tira o pão, não se come a carne, Álvaro se limitava a responder. E como ninguém nunca viu nada de mais, as coisas ficavam só nisso.
Uma noite, alguns meses depois, o gerente volta tarde da noite para a empresa. Ele havia esquecido a proposta comercial que apresentaria no outro dia bem cedo para um cliente.
- Não queria ter que voltar, mas não vou ter tempo de passar aqui amanhã de manhã para pegá-la. - O gerente ia pensando enquanto subia de elevador.
Ao entrar na empresa, ouve um barulho estranho. Será que alguém estava trabalhando àquela hora da noite? Ou seria um ladrão?
As luzes do escritório estavam apagadas. Não se podia ver nada. Então aquele barulho não era de ninguém trabalhando.
Silenciosamente ele se aproxima da saleta onde ficam os servidores, que é de onde os ruídos são produzidos e acende a luz.
- Álvaro! Que diabos vocês estão fazendo? - Pergunta o gerente surpreso.
Álvaro e Ângela olham para o gerente.
- Você não vive dizendo que de onde se tira o pão não se come a carne? Como você faz um negócio desses aqui?
E com um sorriso malandro, Álvaro responde: - É que pão com carne é tão gostoso!
Nenhum comentário:
Postar um comentário